Falando de Marketing

Artigos, comentários e idéias sobre marketing e afins.

quarta-feira, março 22, 2006

O erro de português na comunicação empresarial

Quantas vezes você viu um anúncio, acessou um site, leu um informativo ou uma mala direta e percebeu erros de português ou textos mal-escritos? Duvido que alguém nunca tenha passado por isso.

Vejo tantas empresas, não só micro ou pequenas, mas também médias e grandes, tropeçarem freqüentemente no uso da língua em sua comunicação. E o triste é perceber que a maioria delas não se importa com isso.

Eu acredito que tal realidade se deve, em partes, ao fato de que poucas pessoas têm domínio da língua, sendo que a maioria não tem consciência disso. E olha que na lista dos que têm menos desenvoltura com o português não estão apenas pessoas com pouca formação. Conheço mestres, doutores e especialistas que têm dificuldades em elaborar textos sem erros de concordância ou semântica, com frases que se fechem em uma idéia e que juntas façam sentido. Mas minha intenção não é criticar ninguém por causa disso. Só quero mostrar que, por mais que todos façamos uso da língua, nem todos temos domínio dela. Infelizmente, porém, poucos param para pensar nisso.

A maioria das pessoas pensa que sabe escrever suficientemente bem e acha dispensável a contratação de pessoas especializadas nisso para auxiliar na elaboração de textos empresariais. Muitos ainda pensam que a profissão de redator ou revisor é “menos nobre”, porque tais profissionais não detêm conhecimentos tão específicos como engenheiros ou médicos.

Mas é aí que se enganam e é quando eu tenho a seguinte opinião: se você não é médico, não vai sair operando ninguém por aí. Da mesma maneira, se você não estuda, pratica e domina o uso da língua portuguesa, não saia por aí achando que pode escrever textos de cunho profissional e com divulgação ampla. Por quê? Para não queimar seu filme. Eu não vou escrever um artigo sobre Direito Romano se não sei nada disso. Não quero passar vergonha. Parece lógico, não? Mas então por que vemos tantos administradores, dentistas, advogados, designers tentando escrever textos para comunicação e divulgação externa? Será que eles não têm receio de que seus clientes ou parceiros criem uma má impressão do seu serviço a partir da leitura de um texto mal-escrito? Aparentemente não.

Então façamos um pequeno teste: você está procurando um dentista e chega à frente de duas portas. Em uma delas há uma placa (com perdão do exagero no exemplo): “Cirurgiãos Dentísticos” e na outra, “Consultório Odontológico”. Em qual das duas você bateria?


O dentista não tem tanta obrigação de saber escrever certo quanto de operar uma broca. Mas na hora de comunicar seu serviço ao público, ele tem que transmitir corretamente sua mensagem. Se ele não o fizer, criará uma imagem errada do seu trabalho. Por isso, ele deve consultar um profissional da área para não pisar na bola num assunto que não lhe concerne, mas serve de apoio para o trabalho que executa. É como contabilidade: você pode até tentar fazê-la por conta na sua empresa, mas as chances de alguma coisa dar errada e dos cálculos não fecharem no fim do mês são bem maiores do que se você contratasse um contador para fazer o trabalho.

Por todas essas razões é que eu digo: chega de achar que você mesmo pode escrever os textos para o folder ou site da sua empresa. Se você não tem intimidade com a língua, se você não é daqueles que as pessoas sempre comentam “nossa, como você escreve bem”, contrate um profissional. E mesmo se você escrever bem, lembre-se: há uma grande diferença entre fazê-lo bem e saber produzir textos com o approach adequado ao seu público, de acordo com o meio utilizado e com base nos seus objetivos de comunicação. Em suma, quando se trata de comunicação empresarial, o responsável pela produção dos textos não só precisa fazer tudo dentro das normas da língua portuguesa, como deve ter conhecimento e preparo para utilizar as diferentes técnicas e ferramentas de comunicação, abordagem, persuasão, etc.

Não pense que seu cliente irá relevar pequenos errinhos de português ou de digitação. Uma comunicação mal-apresentada significa muito mais do que a falha em si. Ela pode ser um fator que altera a percepção do cliente sobre sua empresa, o cuidado que você toma ao divulgar informações, a sua atenção aos detalhes... Publicar um texto mal-escrito pode levantar todas essas questões na mente do seu target.

A maioria dos nossos julgamentos são baseados em impressões. A impressão que eu tenho de um texto mal-elaborado pode ser diferente da sua. Eu posso achar terrível, você pode não dar bola. Mas se nós dois lermos um texto bem-escrito, nossa impressão será a mesma, pois eu não terei uma opinião ruim sobre a comunicação de tal empresa. E, como o objetivo da comunicação empresarial é transmitir e despertar percepções semelhantes no seu público, há mais chances de consegui-lo comunicando-se correta e adequadamente.

Por isso é preciso profissionalizar a comunicação das empresas. Devemos ter consciência de que exatamente por ela estar presente em todo o dia-a-dia da empresa, a forma como ela se apresenta é crucial para fazer-se entender e transmitir exatamente o que queremos.


Avalie a qualidade dos textos da sua empresa e, se puder, contrate um profissional para reescrevê-los. Se não for possível, invista em um curso ou compre um livro com dicas sobre redação empresarial. Há também diversos sites com conteúdo gratuito que podem tirar suas dúvidas e ajudá-lo a escrever melhor. Faça o que estiver ao seu alcance, sem nunca deixar de dar uma importância especial à comunicação da sua empresa. Seus clientes, com certeza, vão sentir a diferença.


quinta-feira, março 09, 2006

Agência X Cliente

Quem trabalha na área de comunicação, publicidade, marketing e afins sabe que há uma diferença bastante grande entre trabalhar na agência fornecedora do serviço e atuar na empresa que contrata os préstimos do publicitário, designer ou assessor de comunicação.

Partindo do ponto de vista da minha experiência em ambas as situações, identifiquei algumas diferenças. Uma das maiores trata-se da variação entre a noção do todo que o cliente e que o fornecedor têm sobre uma determinada situação.

Quando se trabalha em uma agência na área de criação, por exemplo, as informações sobre o trabalho que você deve desenvolver normalmente já chegam todas mastigadas e estruturadas num job pronto para ser feito. Neste caso, mesmo que você queira, suas possibilidades de acesso a mais dados que complementem a compreensão do que precisa ser elaborado são um tanto baixas. Se o criativo quiser saber mais, ele precisa perguntar para o diretor de criação, que pergunta para o atendimento, que pergunta para o contato no cliente, que, por sua vez, pode não saber muito bem a resposta e perguntar para seu colega e/ou superior e assim por diante. Isto é, até chegar a informação, com pequenas probabilidades de não haver nenhum ruído entre tantos emissores e receptores, o prazo do job já passou e você não fez nada. Resumindo, você tem que trabalhar com as informações que já possui. É o famoso “Se vira!”. Não admira que muitas vezes ocorram tantas “refações” – sempre odiei essa palavra que não existe na língua portuguesa, mas um monte de publicitário adora usar.

Por outro lado, quando você trabalha no cliente, as dificuldades são outras. Se na agência é difícil obter informações suficientes para compreender todos os porquês que fazem aquele job ser daquele jeito, no cliente você consegue compreender melhor todos os motivos; porque é você mesmo quem os levanta. É aí que complica: quando se atua no cliente, trabalha-se com dados, não informações. Dentro de um departamento de marketing, exceções à parte, ninguém de outro setor chega falando: “Gente, precisamos melhorar nossa imagem para os clientes com perfil assim, assim e assado através de uma campanha com verba de tantos reais que comece daqui um mês e termine no final do ano”. Não. No cliente, o profissional de marketing precisa analisar, ouvir, observar, pesquisar, estudar, juntar um monte de dados, tratar, olhar para tudo aquilo e decidir o que deve ser feito.

Se é mais ou menos trabalhoso do que atuar em uma agência? Isso não vem ao caso. O que quero explicitar é a diferença de obtenção de informações que ocorre na agência e no cliente para que cada um possa embasar o seu trabalho.

Qual o resultado disso? Clientes que reclamam das agências porque não fazem o que eles pediram e agências criticando clientes porque não sabem o que querem. Claro que com bons profissionais e comunicação facilitada essa relação se dá muito bem, mas mesmo assim, entre as quatro paredes modulares da sua sala, cada um reclama ou alfineta um pouquinho o outro. Mas por quê? Porque os profissionais da agência pensam que sabem o que é melhor para o cliente com base nas informações que lhes é disponibilizada. E profissionais do cliente pensam que deram informações suficientes para que a agência compreenda o que eles precisam. Isso tem solução? Às vezes sim, às vezes não. Há situações em que basta montar um briefing melhor. Mas há outras em que simplesmente a empresa cliente não pode passar tantas informações quantas são necessárias devido a políticas e questões internas.

Face a essa realidade, vejo-me hoje em situações que nunca imaginei, o que me traz uma bagagem que ninguém nunca poderia me ajudar a carregar senão a minha própria experiência. Quando lido com fornecedores e percebo suas reações, lembro-me de quando eu estava no lugar deles, e isso me ajuda a compreender sua realidade e saber como falar, como negociar, como e quais informações transmitir, etc.

A maioria dos profissionais (e das pessoas) tende a achar que o seu ponto de vista é o mais correto, chegando a criticar facilmente outros que desempenham funções e cargos diferentes. Mas quando se atua tanto em um lado quanto no outro, é muito interessante perceber que não há mais ou menos razão na forma em que cada um vê o mesmo problema. Há simplesmente diferentes ângulos de visão.