Falando de Marketing

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segunda-feira, agosto 04, 2008

Não há proatividade sem um pouco de empowerment

É muito comum ler tanto em anúncios de emprego, quanto em currículos o termo “perfil proativo”. Todo candidato diz ser e toda empresa quer que seus colaboradores tenham isso como atributo. Mas será a proatividade um requisito imprescindível para todo tipo de empresa e profissional?

Segundo o dicionário Houaiss, proativo é alguém “que visa antecipar futuros problemas, necessidades ou mudanças; antecipatório”. Por sua vez, antecipatório é aquele “que visa às providências para a execução de determinada ação ou à previsão de problemas, necessidades e alterações futuras”. Certo. Então proativo é o cara que toma as providências para fazer o que deve ser feito e tem capacidade para analisar o que está por vir, o que a empresa vai precisar, que dificuldades pode ter.

Ampliando um pouco mais a compreensão do termo com base na sua aplicação atual, podemos dizer que quando seu chefe chama você para um canto e pede mais proatividade, ele está pedindo que você corra mais atrás das coisas, identifique o que precisa ser feito e faça ou pelo menos planeje como fazer, toque adiante, faça acontecer.

Se você leu isso – ou já passou por isso – e pensou que jamais conseguirá ser assim, não se desespere. Pelo menos não por enquanto. Sua não identificação com o significado de proatividade neste momento não quer dizer necessariamente que você não seja proativo. Isso porque proatividade – como muitos outros atributos de uma pessoa – depende de um ambiente propício para ela aflorar. Ou seja: não adianta você chegar à empresa todo proativo, cheio de boa vontade e não ter retorno. Não receber o apoio dos superiores. Não ser reconhecido, não ver suas idéias seguirem adiante e tornarem-se realidade. Pior ainda, escutar de alguém “isso não é seu trabalho”, ou “é, pode ser uma idéia, vamos ver”, mas o tempo passa e nada acontece. Quem consegue se manter proativo em um ambiente desse por muito tempo?

Infelizmente, porém, esse é um quadro muito comum por aí. Quando uma empresa centraliza na mão de poucos o poder de decisão e é burocrática, não há proatividade que resista. Na realidade, se a intenção é ter uma empresa com tal perfil, não se deve exigir proatividade. Afinal, ela não será usada para nada senão para criar falsas expectativas – tanto para a empresa quanto para o colaborador. Adianta a companhia contratar uma pessoa proativa esperando que ela mude as coisas para melhor se ela não tiver a liberdade e o poder para fazê-lo?

É aí que entra o empowerment: um modo de gerir pessoas baseado na delegação de poder e na confiança, proporcionando autonomia para o colaborador e, por conseguinte, criando condições para sua participação de forma mais efetiva e responsável nas questões que envolvem não só sua função, mas toda a empresa.

Com o empowerment, uma empresa envolve o colaborador em todo seu funcionamento. Mostra que ele é peça ativa em uma grande máquina que depende da sua capacidade não só de fazer o que deve ser feito, mas de tomar decisões quando alguma coisa emperra ou quando percebe-se que é possível fazer algo de um jeito diferente e melhor.

Uma empresa que dá autonomia para o colaborador tomar decisões, resolver problemas ou otimizar algum procedimento, está dividindo com ele a responsabilidade, mostrando que confia no seu julgamento. Isso cria uma relação entre companhia e profissional mais saudável e portanto mais interessante e motivadora para o colaborador. Certamente há pessoas que não têm vontade de dividir responsabilidade alguma com seu empregador. Por isso, outra regrinha do empowerment não é impor, mas sim permitir que o colaborador opte por receber mais poder, autonomia e responsabilidade.

Como falei antes, nem todas as empresas têm o perfil para adotar o empowerment, mas muitas têm e não o fazem. É verdade que o empowerment traz riscos, como a possibilidade da ocorrência de erros advindos de decisões equivocadas. Mas isso pode ser evitado ou reduzido com treinamento, acompanhamento, avaliação e adoção de modelos de qualidade de processos. Uma empresa saudável sabe tolerar erros até certo ponto. Afinal, a gente sabe que só cresce tentando, ousando, arriscando e, eventualmente, errando.

Talvez muitas pessoas sejam proativas e ainda não saibam, porque seu ambiente de trabalho não dá espaço para essa virtude aparecer. Talvez muitas empresas precisem de proatividade, mas não oferecem as condições necessárias para que ela se manifeste em suas equipes. Não adianta ficar esperando ela aparecer. A proatividade tem que ser estimulada. E um dos caminhos é o empowerment, sendo que a adoção de alguns conceitos dessa abordagem já pode ser suficiente para aumentar a proatividade. Que tal se as empresas tentassem delegar um pouco mais aos seus funcionários? Ou confiassem ou pouco mais nas suas decisões?

Não seria um refresco poder planejar, agir e tocar para a frente alguma coisa sem precisar perguntar para o chefe antes? Se você concordou, é porque sim, você é proativo. E se por acaso você não sabia disso até agora, é só porque ainda não recebeu a dose certa de empowerment.


*Este artigo foi originalmente publicado na (infelizmente extinta) newsletter MarketingProfs Hoje de 3 de outubro de 2007.